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25 de Abril de 2024

Juíza condena trabalhadora e testemunha por litigância de má-fé e oficia a OAB por envolvimento de advogada

Publicado por Perfil Removido
há 7 anos


A juíza Fernanda Garcia Bulhões Araújo, em sua atuação na 45ª Vara do Trabalho de Belo Horizonte, condenou por litigância de má-fé uma vigilante e sua testemunha após concluir que elas faltaram com a verdade em juízo. Por entender que a advogada também estava envolvida, determinou a expedição de ofício à Ordem dos Advogados do Brasil, para apuração de eventual descumprimento dos deveres profissionais pertinentes.

A trabalhadora ajuizou ação trabalhista contra a ex-empregadora, uma empresa do ramo de segurança, pedindo diversas verbas. Dentre as alegações apresentadas, estavam as de que teria prestado horas extras e acumulado funções. Mas, para a magistrada, a parte agiu claramente em conluio com sua advogada e testemunha, prestando informações falsas.

Nesse sentido, a sentença registrou que a jornada de trabalho informada foi muito superior à verdadeira, sendo alegados fatos “comprovadamente falsos” em juízo. Além disso, não era verdade que os gradis do estádio do Mineirão, onde foram prestados os serviços, eram levados a outro setor pelos próprios vigilantes. A julgadora chamou a atenção para o fato de a trabalhadora, por sua procuradora, ter ratificado os argumentos inverídicos, mesmo após a expedição de ofícios pelo juízo. Ainda segundo registrou, os relatos da periodicidade de eventos realizados no estádio do Mineirão não foram verdadeiros. “Novamente a reclamante, sua advogada e a testemunha informaram fatos totalmente alheios à realidade”, ressaltou, identificando as declarações que levaram a essa conclusão.

“É patente nos autos que a parte autora e seu patrono adulteraram a verdade dos fatos quando da propositura da reclamação trabalhista, formulando pretensões complemente carentes de fundamentos”, enfatizou, enquadrando a situação no inciso II do artigo 80 do CPC/2015. O dispositivo considera litigante de má-fé aquele que altera a verdade dos fatos. Na fundamentada decisão, destacou ainda que a testemunha endossou, em seu depoimento, os inverídicos argumentos, mesmo após ser advertida e compromissada, sendo inclusive acareada com a outra testemunha, com o fito de beneficiar a demandante.

“Verifico, pois, flagrante embuste, evidenciando a inveracidade das informações postas em juízo, em claro conluio entre a autora, sua procuradora e a testemunha convidada daquela”, reforçou, entendendo violado o princípio da boa-fé processual implicitamente previsto no artigo 77, inciso I do novo CPC, o qual impõe a todos os que participam do processo o dever de expor os fatos conforme a verdade. No aspecto, explicou que, embora o capítulo no qual está inserido o dispositivo se intitule “DOS DEVERES DAS PARTES E DE SEUS PROCURADORES”, as suas disposições alcançam “todos aqueles de que qualquer forma participem do processo”. Portanto, alcança também as testemunhas, quando fazem alegações que sabem serem falsas ou enganosas, com o objetivo de induzir o julgador a erro.

A decisão lembrou que o artigo 80, inciso II, do CPC/15, considera litigante de má-fé as partes e os terceiros em geral que intervierem na causa e que alterarem a verdade dos fatos. Por sua vez, o artigo 81 estabelece a condenação do litigante de má-fé ao pagamento de multa, indenização pelos prejuízos que a parte contrária sofreu, honorários advocatícios e demais despesas. No caso, foi considerado que a vigilante e a testemunha incorreram na prática de deslealdade processual em decorrência da violação do dever de veracidade.

Considerando o princípio da boa-fé e lealdade processual, a magistrada condenou a trabalhadora e a testemunha a pagarem multas por litigância de má-fé. A primeira, no valor equivalente a 4% do valor da causa, no importe de R$997,27. Já a testemunha, em 2% sobre o valor da causa, no total de R$ 498,63. A decisão se reportou aqui ao artigo 81, parágrafo 1º, do NCPC. Foi determinado que o montante total das penalidades (R$1.495,90) seja revertido à ex-empregadora, com caráter eminentemente pedagógico.

Conduta da advogada – A magistrada entendeu que a advogada da vigilante também formulou falsas pretensões, ao descrever fatos inverídicos, evidenciando conduta maliciosa, no exercício da advocacia. Lembrou que a função exercida é essencial para a administração da Justiça (artigo 133 da Constituição Federal). E apontou que o dever da profissional seria o de contribuir com o Poder Judiciário para uma justa prestação jurisdicional. Ela lembrou que um dos dispositivos do Código de ética da OAB é, justamente, aconselhar o cliente a não ingressar em aventura judicial, sendo proibido ao advogado falsear deliberadamente a verdade dos fatos expostos em juízo.

Por tudo isso, determinou a expedição de ofício à Ordem dos Advogados do Brasil para que apure eventual descumprimento dos deveres profissionais da advogada da vigilante.

Ainda cabe recurso da decisão.

Fonte: TRT3

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11 Comentários

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Acho interessante esse tipo de situação, porque advogado não é litigante, logo, não litiga de má-fé. Importante lembrar que nem sempre o cliente fala a verdade, e é impossível para o advogado saber exatamente o que de fato ocorreu. Uma dica é sempre pedir na entrevista, para que ele leia o que foi escrito por você, advogado, e assine caso os fatos transcritos forem exatamente o que ocorreram na visão dele, cliente, assim é possível evitar problemas futuros.

Eu já passei por uma experiência em que minha cliente me procurou para ajuizar uma reclamação que em pleiteava verbas rescisórias, alegando que não haviam sido pagas, no entanto, ao chegar na audiência para minha surpresa a empresa reclamada comprovava que havia pago tudo nos conformes.
É uma situação desagradável para o advogado, você não espera que o cliente minta na entrevista, age buscando garantir direitos e no fim, saí da audiência envergonhada. continuar lendo

Poxa, a advogada só queria dar uma socializada nos recursos da empresa e a juíza cortou o barato. Sacanagem. continuar lendo

Lá nos idos dos anos 80 essa era uma prática comum. Lembro de uma banca inteira de advogados - cerca de dez ou doze advogados - punida com pena de suspensão de 90 dias pela OABSP, após uma juíza, hoje desembargadora, identificar que quase todos os processos eram inflados pelos causídicos. Em alguns os reclamantes tinham recebido todos os seus direitos e, ainda assim, os advogados "criavam" histórias e situações na tentativa de tirar algum dos empregadores, normalmente grandes empresas.
É um tipo de advocacia trabalhista que ainda ocorre hoje em dia, pede-se tudo sem nem olhar os documentos para depois em audiência fazer um teatrinho e conseguir um acordo. Isso sem falar na moda do "dano moral".
Acho justa a decisão. Provavelmente a reclamante o fez por mera vingança ou instruída pela advogada. continuar lendo

Seria bom que os juízes punissem as empresas ou empregadores com tanto rigor. Hoje vemos uma tentativa da justiça em intimidar as pessoas a acessá-la e principalmente uma benevolências com os empresários, principalmente,quando se tratar de empresas públicas. E quanto ao dano moral sempre irrisório, a não ser, quando é algum magistrado figurando como autor, aí o valor sobe mesmo. continuar lendo

Bem colocado. Como em todas as funções, é certo que existem maus advogados, porém, a arrasadora maioria é de advogados honestos. Há situações em que não é possível identificar se o cliente está mentindo, assim como há situações em que a história contada pelo cliente parece absurda, mas não é.
É difícil opinar sem conhecer os autos na totalidade, mas pelo breve relato, presume-se que a testemunha da autora sustentou seu depoimento, mesmo mediante as advertência do Juízo, o que pode indicar que estaria falando a verdade. É sabido por quem milita na Justiça do Trabalho, que certos empregadores expõe os empregados a condições desumanas, fatos que a primeira vista, até parecem mentira, mas não são, o que exige muita perspicácia do Juiz. Espero que essa Juíza não tenha se equivocado e que realmente a autora tenha agido de má-fé, pois se assim não for, uma injustiça foi cometida.
Com relação à advogada, acho temerário responsabilizá-la, já que retrata apenas o que o cliente fala. Se a moda pega, ficará perigoso advogar, pois o pescoço do advogado estará sempre na guilhotina, posto que não tem bola de cristal para saber se o cliente está mentindo. continuar lendo